Como Sheldon Cooper nos ajuda a compreender os relacionamentos?
- CAN - Centro Acadêmico de Neurociência
- 15 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de set. de 2021
Angelia Cavalheiro Rodrigues, Lara de Melo Gomes e Mayara Monteiro da Silva
Revisão: Paula Ayako Tiba e João Ricardo Sato
A prática de trocar presentes é algo comum no universo das relações sociais, como forma de manifestação afetuosa: essencialmente, a adequação não depende do custo financeiro, mas sim da representatividade simbólica do presente. Entretanto, quem nunca sentiu internamente algo como o que Sheldon, da série The Big Bang Theory, exprime no meme abaixo?

No artigo “Effort for payment: A Tale of Two Markets”, James Hayman e Dan Ariely desvendam que, quando recompensas sociais (presentes) são associadas aos seus valores em dinheiro, a relação deixa de ser percebida como social, e passa a corresponder aos padrões de uma relação mercadológica (monetária). Enquanto o Mercado Social é pautado no altruísmo, o Mercado Monetário é pautado na expectativa de reciprocidade. Isso é, em relações no Mercado Monetário, a retribuição importa e de forma diretamente proporcional ao valor monetário associado.
Falando em dinheiro, a excentricidade do comportamento de Sheldon pode ser explicada pela ótica do artigo publicado pela Science em 2006: The Psychological Consequences of Money. Nele, as autoras observaram, de diferentes maneiras, que na presença da ideia, mesmo que inconsciente do dinheiro, os participantes isolavam-se enquanto se esforçavam para atingir seus objetivos pessoais, preferindo ficar longe dos demais. Tal comportamento foi definido como autossuficiência. Agora, podemos deduzir que Sheldon é tão autossuficiente que nem mesmo aceita ganhar um presente.
Além disso, em 1979, Margaret S. Clark e Judson Mills testaram uma hipótese que também nos ajuda a entender porque Sheldon age com tamanha objeção ao ser presenteado. Neste artigo, os autores definiram a existência de dois tipos de relacionamentos: Comunal e De Troca. Para verificar a validade da hipótese, eles testaram como a troca de favores impactou as pessoas que se encontram em cada uma dessas categorias de relacionamento.
Em um relacionamento considerado comunal, as pessoas se preocupam com o bem-estar das outras e, quando percebem que alguém precisa de algo, fazem um favor, sem esperar e nem querer que o favor seja retribuído. Por outro lado, quando o relacionamento é considerado “de troca” e uma pessoa beneficia a outra, é esperado que o outro retribua. Assim, quando o Sheldon diz a Penny “você não me deu um presente, você me deu uma obrigação”, quer dizer que ele considera o relacionamento dos dois como “de troca” e por isso ele sente que precisa dar a ela um presente proporcional ao que recebeu, para que a relação não seja comprometida.
Referências
Clark, M. S., & Mills, J. (1979). Interpersonal Attraction in Exchange and Communal Relationships. Journal of Personality and Social Psychology. <https://psycnet.apa.org/record/1980-21037-001 >
Heyman, J., & Ariely, D. (2004). Effort for payment: A Tale of Two Markets. Psychological science. <http://ezl.periodicos.capes.gov.br/connect?session=rOWcn1uyFh0r9O5o& qurl=https%3a%2f%2fjournals.sagepub.com%2fdoi%2ffull%2f10.1111%2fj.0 956-7976.2004.00757.x>
Vohs, K. D., Mead, N. L., & Goode, M. R. (2006). The Psychological Consequences of Money. Science. <https://science-sciencemag-org.ez42.periodicos.capes.gov.br/content/314/ 5802/1154>
*Texto escrito pelos alunos vinculados ao Bacharelado em Neurociência da UFABC.
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